Estava inclinada a não aceitar a provocação. Também tinha memória sobre aquela trágica briga que lhe rendeu alguns dias sem sentar, por mais ‘’ carinhoso’’ que ele tenha tentando ser, aplicou uma boa dose de força naquelas palmadas. Yuri sabia que Isobel odiava ser tratada como criança, isso desde quando era uma criança. Essa era uma das coisas que ele adicionou a seus pontos fracos.
Pretendia argumentar a provocação, mas engoliu as palavras quando ele contou a novidade, sobre seu tio, apesar das divergências e de nutri um ódio em especial por ele, sentiu aquelas palavras pesarem. Mas a pior parte era saber que seu próprio filho teria tirado sua vida.
Por um momento deixou de encará-lo nos olhos buscando refugio na chama trepidante proveniente da fogueira. Precisava pensar afinal com o pai morto ele não é só o líder dos Bloodstar, no mínimo está sendo caçado pelos outros, e com certeza ia ser morto, pois não tinha mais apoio. Teria que decidir agora, se o queria morto ou vivo, pois sem ajuda de Elliot era só uma questão de tempo.
Rapidamente como se saísse de um transe recobra a consciência ao para de pensar no possível funeral de Yuri. Percebendo que o momento não pedia um conflito, mas uma solução deu alguns passos na direção dele, sentado ao seu lado, inclinou um pouco à face, porem dessa vez encarou-o nos olhos, que iluminados pela luz das chamas revelam uma bela tonalidade.
Nunca tinha percebido o quanto Yuri é bonito, pois sempre estava ocupada tentando vencê-lo nas brigas ou insultando-o para se dar conta que ele também cresceu. Era uma pena este não ser um momento propicio para se dar conta desses detalhes. Tendo em vista a situação delicada do momento impedindo um pouco de apreciação. Resolveu manter sua atenção em um possível plano de ajuda.
Acomodando suas pernas uma sobre a outra na posição de índio com os cotovelos apoiados para sustentar a cabeça sobre as mãos, diz calmamente sem esboçar nem um sorriso.
-Eu sabia que você não era inteligente, mas burro a esse ponto foi uma surpresa! Yuri, o resto da matilha vai te caçar até seu último suspiro.
Fecha os olhos por alguns segundos, pois a fumaça há incomodou um pouco, ou talvez seja uma singela lágrima tentando escapar enquanto é duramente reprimida pelos instintos de Isobel, ela jamais permitiria transparecer tristeza ou medo outra vez. Continua conversando com ele, coisa que não acontecia há muito tempo.
- No momento a sua cabeça pode ficar no lugar, eu não preciso dela para ser uma heroína, vou ser, se conseguir mantê-la no lugar. – Até tentou confortá-lo, com um sorriso sincero e acolhedor. Forçando-se a não deixar nenhum outro sentimento transparecer e mostra para ele que juntos podem sair dessa.
Ela não atentou para o fato de que este seria o momento de finalizar toda a dor que sentiu quando os Bloodstar mataram sua família. Este é o momento de vingar a morte de seu pai, mas a que preço? Ao custo do sangue do seu primo? Não se prendeu a essa pequena reflexão. Retornar a sua ignorância habitual, no momento é a coisa certa a ser feita.
- Vou dizer o que vamos fazer: Levantar a bunda da poeira e procura o Elliot. Ele vai te ajudar.
Isobel não tinha dúvidas de que Elliot na qualidade de lidar dos Stonemoon ia ajudar, pois pela lógica, Yuri também era sobrinho do antigo líder e não tinha nada haver com aquela briga. Ele era apenas uma vítima da crueldade de seu pai. Isobel não agüentava vê-lo naquela situação, enquanto o mundo vai desabar sobre sua cabeça. Sentado apenas preocupado com o fogo, dava a entender que tinha se rendido. A marca de luta era visível em seu braço, mas ao que parece a pior habitava em seu coração. Não queria perde o melhor amigo de infância, e o único parente de sangue vivo por uma guerra feita por outros.
Antes que pudesse pensar em algumas palavras para consolar Yuri, sente uma presença, escuta alguns galhos estalando a sua frente, perto dos arbustos. O estalar dos galhos secos, agitação de alguns pássaros, anuncia o que vai acontecer. Isobel levanta-se devagar e ficou abaixada pressionado os joelhos, e com as duas mãos firmes na terra inicia sua transformação. Alguns segundos depois um garou enorme, de pelos escuros e grossos, revela sua fúria na direção deles. Ela não tem dúvidas, avança na direção dele com as garras prontas para cravar na sua carne.
A mente de Yuri estava longe e a mil, mas seu corpo estava ali sujeito a tudo. Só voltou a realidade quando o vento gelado e o cheiro de Isobel lhe atingiram no rosto. Seus olhos azuis focaram-se nos dela. Yuri deu um sorriso, sentia falta da amiga.
As palavras dela ainda ecoavam pelo local quando começou a fazer sentido para ele. Uma incontrolável vontade de rir foi crescendo no seu interior.
Virou o rosto para falar, mas se calou quando viu sua transformação. Tombou a cabeça para trás e fechou a cara.
- Que diabos! – A voz era assustada. – Não precisa disso.
Yuri levantou-se devagar e passou para a forma intermediária, nunca foi muito afobado. Seus olhos fixos no movimento dos dois. Riu quando os garous se choraram, gostou de observar Isobel o defendendo, mesmo sem necessidade. Pensou em deixar o outro garou dar uma lição nela, mas nunca iria se perdoar se acontecesse algo, as brigas com Isobel eram exclusivas dele.
Quando o outro garou levantou seus braços e desceu a garrada sobre ela, Yuri já estava a puxando e cobrindo seu corpo. Soltou um gemido dolorido.
- Dá para parar! Os dois! – Sua voz foi alta e firme.
Não soltou Isobel e virou o rosto para o amigo que balançou a cabeça negando e voltando a sua forma real.
- Ela é inimiga, Yuri deveríamos acabar com isso já. – A voz do homem tinha muita raiva.
- Humrum, e isso é assunto meu, certo? Volte e diga que estou de luto e desejo ficar sozinho com os meus ‘fantasmas’! – Usava uma voz decidida.
Gustav o alemão do bando, olhou para o rapaz com um ar critico. Os dois se encararam e instantes depois o alemão virou o rosto desviando o olhar.
-Certo Yuri, tome cuidado! – Tentava manter a voz firme, mas se sentia frustrado.
Yuri somente sorriu e ainda segurando Isobel moveu o rosto passando pela nuca dela e falando num tom baixo.
- Não fique brava, só estavam preocupados comigo assim como você, mas agora me diga... Eu matei meu pai?
O rapaz largou Isobel e deu um sorriso de canto de boca.